Caros leitores, venho hoje partilhar convosco uma saga épica de acesso digital, onde a burocracia se revela uma arte refinada e a tecnologia uma peça de stand-up comedy mal ensaiada. O título é autoexplicativo, mas preparem-se para os detalhes que fariam Sísifo invejar a minha persistência.
O palco: o Universo (a loja, não a galáxia, infelizmente). O problema: a singela necessidade de entrar na minha conta. Como mudei o meu número de telemóvel — esse objeto tão volátil e propenso a alterações como as promessas eleitorais —, perdi, como é lógico, o acesso. O sistema, na sua infinita sabedoria, exige o número que já não possuo. Um paradoxo existencial digno de um filósofo pré-socrático.
📧 A Missiva e a Iluminação
Decidi, com a calma dos justos, enviar um e-mail. A resposta do serviço de apoio foi um primor de clareza inútil:
"Relativamente ao seu pedido de alteração de telemóvel, informamos que a operação requer o envio de um código de segurança único, enviado exclusivamente através de contacto com a Linha de Apoio."
Fantástico! O sistema online não permite a mudança porque requer um código, mas para obter o código... tenho de ligar. Quase consigo ouvir o coro angelical da eficiência a entoar um hino à redundância.
🤖 O Diálogo de Surdos com o Ser Supremo
Munido do número 308 811 418 e da minha melhor paciência Zen, liguei. Do outro lado, um robot de apoio ao cliente (vamos chamá-lo "Bóris") saudou-me. Expliquei a Bóris, com a devida solenidade, que desejava "MUDAR O NÚMERO DE TELEMÓVEL".
Bóris, no auge da sua programação avançada, respondeu: "Claro! Para mudar o seu número, aceda às configurações na app ou no site."
Momento de silêncio.
Eu: "Bóris, eu não tenho acesso à app nem ao site porque mudei o número. É esse o problema."
Bóris: "Compreendo. Para sua segurança, enviei um código para o número associado."
(O número antigo, claro. O número que eu não tenho. Aquele que deu origem a toda a trapalhada. Um toque de génio.)
Esta dança absurda prolongou-se por uns gloriosos 30 minutos. Eu pedia um operador humano. Bóris, o guardião da linha, respondia, com a confiança de um hacker reformado: "Não vale a pena, sou eu que resolvo o seu problema."
💥 O Desfecho Catártico
Chegou o momento em que a paciência, essa virtude tão sobrevalorizada, se esgotou. A cortina de boas maneiras rasgou-se.
Eu, com a voz embargada pela exasperação acumulada de 30 minutos a falar com uma cassete avariada, soltei a frase mágica, a senha universal que destranca qualquer porta burocrática:
"F* PASSA ESSA M* A ALGUÉM!"
Oh, a ironia! Foi o grito primal, o palavrão sincero e de três sílabas, que finalmente quebrou o feitiço. O que a lógica, o e-mail e a educação não conseguiram, a força bruta da interjeição concretizou.
Bóris, subitamente submisso, disse: "Vou passar a chamada a um operador."
Esperei mais 15 minutos (a cereja no topo do bolo da eficiência), mas, finalmente, o problema foi resolvido por um ser humano com a capacidade de compreender que "mudei o número" significa, de facto, que "mudei o número".

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