quarta-feira, 12 de novembro de 2025

🤬 A Força Insuperável do F*! (e o Universo Paralelo do Apoio ao Cliente)

Caros leitores, venho hoje partilhar convosco uma saga épica de acesso digital, onde a burocracia se revela uma arte refinada e a tecnologia uma peça de stand-up comedy mal ensaiada. O título é autoexplicativo, mas preparem-se para os detalhes que fariam Sísifo invejar a minha persistência.

O palco: o Universo (a loja, não a galáxia, infelizmente). O problema: a singela necessidade de entrar na minha conta. Como mudei o meu número de telemóvel — esse objeto tão volátil e propenso a alterações como as promessas eleitorais —, perdi, como é lógico, o acesso. O sistema, na sua infinita sabedoria, exige o número que já não possuo. Um paradoxo existencial digno de um filósofo pré-socrático.

📧 A Missiva e a Iluminação

Decidi, com a calma dos justos, enviar um e-mail. A resposta do serviço de apoio foi um primor de clareza inútil:

"Relativamente ao seu pedido de alteração de telemóvel, informamos que a operação requer o envio de um código de segurança único, enviado exclusivamente através de contacto com a Linha de Apoio."

Fantástico! O sistema online não permite a mudança porque requer um código, mas para obter o código... tenho de ligar. Quase consigo ouvir o coro angelical da eficiência a entoar um hino à redundância.

🤖 O Diálogo de Surdos com o Ser Supremo

Munido do número 308 811 418 e da minha melhor paciência Zen, liguei. Do outro lado, um robot de apoio ao cliente (vamos chamá-lo "Bóris") saudou-me. Expliquei a Bóris, com a devida solenidade, que desejava "MUDAR O NÚMERO DE TELEMÓVEL".

Bóris, no auge da sua programação avançada, respondeu: "Claro! Para mudar o seu número, aceda às configurações na app ou no site."

Momento de silêncio.

Eu: "Bóris, eu não tenho acesso à app nem ao site porque mudei o número. É esse o problema."

Bóris: "Compreendo. Para sua segurança, enviei um código para o número associado."

(O número antigo, claro. O número que eu não tenho. Aquele que deu origem a toda a trapalhada. Um toque de génio.)

Esta dança absurda prolongou-se por uns gloriosos 30 minutos. Eu pedia um operador humano. Bóris, o guardião da linha, respondia, com a confiança de um hacker reformado: "Não vale a pena, sou eu que resolvo o seu problema."

💥 O Desfecho Catártico

Chegou o momento em que a paciência, essa virtude tão sobrevalorizada, se esgotou. A cortina de boas maneiras rasgou-se.

Eu, com a voz embargada pela exasperação acumulada de 30 minutos a falar com uma cassete avariada, soltei a frase mágica, a senha universal que destranca qualquer porta burocrática:

"F* PASSA ESSA M* A ALGUÉM!"

Oh, a ironia! Foi o grito primal, o palavrão sincero e de três sílabas, que finalmente quebrou o feitiço. O que a lógica, o e-mail e a educação não conseguiram, a força bruta da interjeição concretizou.

Bóris, subitamente submisso, disse: "Vou passar a chamada a um operador."

Esperei mais 15 minutos (a cereja no topo do bolo da eficiência), mas, finalmente, o problema foi resolvido por um ser humano com a capacidade de compreender que "mudei o número" significa, de facto, que "mudei o número".

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Para bom entendedor...

  ... meia palavra basta!





Governo promete nova Agenda Nacional de IA "nas próximas semanas", e quer “dar a cada aluno um tutor de IA"


Expresso


... “dar a cada aluno um tutor de IA que ouve, orienta e inspira a sua aprendizagem”.

Qual o papel dos professores, se se “der a cada aluno um tutor de IA que ouve, orienta e inspira a sua aprendizagem”?

O Gemini responde.

sábado, 18 de outubro de 2025

Reflexos na Areia: A Filosofia de uma Praia Inclusiva


À entrada da praia, onde a espuma das ondas se mistura com sotaques de toda a Europa, fui interceptado por uma tabuleta simples, mas profunda:

"Your perception of me is a reflection of you... enjoy"

Num primeiro momento, a frase pode parecer apenas mais uma citação "zen" de praia. No entanto, neste nosso "laboratório" de diversidade — um spot de surf com jovens de diferentes nações, onde o inglês é a nossa ponte e a inclusão é a nossa onda — esta máxima ganha uma ressonância especial.

Portanto, da próxima vez que passar por esta praia, não olhe apenas para os surfistas. Olhe para o espelho que eles lhe oferecem. E, acima de tudo, enjoy (aproveite) o que o seu reflexo lhe mostra.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

A Odisseia dos Certificados de Reforma – Entre o Digital e o Papel na Segurança Social

 Descontei durante o tempo em serviço para a Segurança Social, mais que o obrigatório, contribuindo para um fundo poupança, representado por Certificados de Reforma. A adesão ao fundo, para começar a contribuir foi realizada online, na Segurança Social Directa, mas para receber a poupança acumulada é necessária a deslocação a um centro de atendimento, para exercer o designado “Direito de Opção”, talvez para se certificarem de que sou uma pessoa! O atendimento presencial é uma odisseia com marcação prévia no SIGA, que sabe-se lá porquê tomam a liberdade de desmarcar, exigindo nova remarcação.

5.ª-feira, 09/10, foi o dia em que finalmente fui atendido presencialmente em Sintra, mas não serviu para nada. É que eu levava toda a documentação no telemóvel, ie., na nuvem, em formato digital, mas a funcionária só lia em papel! Um dos ficheiros era o Diário da República, da data em que o meu nome foi publicado na lista de aposentados. Confirmar o meu nome no DR online, com a indicação da respectiva série, número e data, foi uma tarefa impossível para a funcionária. Facilitei-lhe o trabalho enviando por mail o respectivo ficheiro para o endereço de uma colega. Quando abriu o PDF, um documento com 34 páginas, ficou a olhar para o monitor, perguntando: “Agora, como é que leio isto?!” Ensinei-a a procurar escrevendo parte do meu nome na caixinha. Mas ler o nome em formato digital não era suficiente… precisava do papel, e então mandou imprimir o ficheiro todo ;) Não vale a pena contar mais, para se perceber que hora e meia depois o serviço fechou, e apenas saí de lá com a promessa de um telefonema da doutora X na manhã do dia seguinte, que não se concretizou.

Perante a falha no contacto, a meio da tarde de 6.ª-feira, 10/10, enviei os documentos por e-mail para o serviço central. 2.ª-feira, 13/10, o assunto ficou resolvido.

Hoje, 3.ª-feira, 14/10, a doutora X ligou-me: “Agora que ia pegar no seu caso, reparei que já o resolveu! Onde foi?”

  • Não fui lado nenhum! Bastou enviar os documentos por mail.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Paradoxo da Educação Revisitado: A IA e a Violência Simbólica na Era Digital


É interessante ler o texto de Steve Hargadon sob a ótica da Sociologia, recorrendo aos conceitos de Pierre Bourdieu. O texto em análise, ao descrever o ciclo de promessas tecnológicas não cumpridas na educação e ao revelar o caráter profundo de reprodução social da "máquina" escolar, dialoga diretamente com os conceitos centrais de campo, habitus, capital cultural e violência simbólica.





1. O Campo Educacional e a Inércia Estrutural

O autor do texto descreve a escola como uma "máquina da educação" que "absorve" e que "não se move", apesar das sucessivas ondas tecnológicas (rádio, TV, computadores, IA). Na ótica de Bourdieu, esta "máquina" é, na verdade, o Campo Educacional.

O Campo Educacional é um espaço social com suas próprias regras (o currículo, a avaliação, os rituais), suas hierarquias e, crucialmente, seus interesses específicos (o monopólio da certificação legítima). A inércia observada não é uma falha da tecnologia, mas a resistência estrutural do campo a qualquer mudança que ameace as posições e o status dos seus agentes dominantes (professores, administradores, formuladores de políticas).

  • A Absorção Tecnológica: As novas tecnologias (a "nova camada de tinta") são "arrebatadas pelo sistema e remodeladas em sombras de si mesmas". Isso ocorre porque o campo exerce sua força de ortodoxia. A tecnologia não é usada para subverter o sistema de avaliação ou a estrutura de poder, mas sim para reforçar o status quo. A IA, por exemplo, corre o risco de ser usada para a gestão de conformidade ou para a personalização de exercícios que apenas replicam o formato de avaliação tradicional, em vez de fomentar a "aprendizagem agêntica" genuína.

2. O Capital Cultural e o "Jogo da Escola" (Paradoxo da Educação)

O texto atinge o cerne da teoria bourdieusiana ao identificar o que chama de "paradoxo da educação": "as escolas se comprometem a liberar o potencial de cada criança, mas muitas vezes ensinam à maioria dos alunos que eles não são 'os inteligentes'". Mais ainda, o autor afirma que os alunos bem-sucedidos o são porque sabem como "o jogo da escola é jogado".

Para Bourdieu, este "jogo" é a manifestação da eficácia do Capital Cultural.

  • Capital Cultural Incorporado: Os alunos que "sobem ao topo" não são apenas "acadêmicos", mas aqueles cujas famílias (ou mentores) lhes transmitiram, desde a infância, o habitus compatível com o sistema escolar. Eles dominam o que Bourdieu chama de arbitrário cultural dominante – as atitudes, o vocabulário, as referências e os códigos implícitos valorizados pela escola.

  • A Ilusão Meritocrática (Violência Simbólica): O sistema escolar mascara a sua função de reprodução social sob o véu da meritocracia. Ao desvalorizar o capital cultural das classes populares (e o "efeito calculadora" da IA pode ser visto como um novo modo de desqualificação) e valorizar apenas o capital dos dominantes, a escola exerce Violência Simbólica. Os alunos que falham aceitam o veredito (que "não são os inteligentes") porque a origem do seu sucesso ou fracasso parece baseada na sua "natureza" individual (inteligência, esforço) e não na sua posição social e na distribuição desigual de capital cultural. A "mentira reconfortante" que o autor menciona é o pilar da violência simbólica.

3. Ameaça da IA: Atrofia do Habitus

A preocupação do autor com o "efeito calculadora" e a atrofia dos "músculos mentais" pode ser traduzida como a ameaça à formação de um Habitus autônomo e crítico.

  • O Habitus Crítico: O objetivo idealizado de uma educação libertadora (o "ensino generativo" e a "aprendizagem agêntica") é formar um habitus dotado de um alto grau de autonomia, capaz de pensamento crítico, escrita reflexiva e raciocínio complexo.

  • O Risco da Dependência: Se a IA for usada como um muleta para imitar os sinais de verdade e precisão, o habitus dos alunos será moldado pela dependência técnica e pela conformidade superficial. O resultado é a produção de agentes que dominam a performance da inteligência, mas não a inteligência em si. Isso atende perfeitamente à necessidade do Estado-nação (como sugerido pelo texto) de produzir "trabalhadores" e manter "o controle e a estabilidade" – agentes que sabem "nadar em suas raias" (conformidade) em vez de questionar a estrutura da piscina.

Conclusão

Na perspectiva de Bourdieu, o texto é uma constatação sociológica da autonomia relativa do campo educacional e da sua função central na reprodução das desigualdades sociais através da consagração do capital cultural. A IA, como qualquer tecnologia anterior, não é o fator de mudança; é um novo objeto de disputa no campo.

A única forma de a IA realizar a promessa de "ensino generativo e aprendizagem agêntica" não é pela sua tecnologia, mas pela mudança nas relações de poder e nas disposições do habitus dos agentes dentro do campo. Enquanto a estrutura profunda do sistema for dominada pela lógica da seleção e da conformidade — isto é, pela reprodução do capital cultural dominante —, a IA servirá apenas para pintar de cores novas a mesma máquina de reprodução. O desafio não é tecnológico, mas político e sociológico.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

A Era Digital promove o crescimento da direita, porque deixou de haver paciência para pensar

No presente momento, a política deixou de ser um mero debate de projectos económicos e sociais para se tornar, sobretudo, uma batalha pela atenção e pela emoção. Esta mudança radical, acelerada pela Era Digital, reescreve as regras do jogo e explica, em grande parte, o crescimento da direita, que soube adaptar-se como ninguém a este novo paradigma.

Se, outrora, a propaganda política se materializava em cartazes nas ruas, faixas e panfletos, hoje ela deslocou-se para a velocidade vertiginosa das redes sociais. O meio é a mensagem, como diria McLuhan, e neste meio, a emoção supera a razão, o impacto visual esmaga o argumento. A política é agora um fluxo constante de bits e bytes que se movem à velocidade do pensamento.

A direita, ao contrário da esquerda, compreendeu intuitivamente esta mutação. Em vez de se focar em elaboradas análises estruturais ou em longas discussões sobre a desigualdade social – temas que exigem tempo de reflexão e se perdem na avalanche de estímulos – a direita aposta na simplificação e no apelo emotivo. O medo, a indignação, o orgulho ou o sentimento de pertença são o combustível que gera engajamento, cliques e partilhas. É uma estratégia cirúrgica, que actua em sintonia com os algoritmos que dominam a nossa atenção e nos mantêm presos aos ecrãs.

A esquerda, por sua vez, teima em ancorar-se numa lógica de racionalidade argumentativa, que se mostra ineficaz nesta nova arena. As suas mensagens, por mais consistentes que sejam, carecem da intensidade afectiva necessária para se tornarem virais. É a política do hot contra a do cool, a do impulso contra a da reflexão. E, na era das redes, o impulso vence sempre. A política tornou-se uma “aldeia global” onde as paixões se inflamam mais depressa do que a razão se pode manifestar.

Esta adaptação da direita à lógica digital, onde a forma se sobrepõe ao conteúdo, explica a sua maior ressonância e capacidade de mobilização. Não se trata de uma superioridade ideológica, mas de uma inteligência estratégica face às exigências do novo meio. O desafio agora, para todos nós, é evitar que a política se converta num espectáculo vazio, refém de algoritmos e cliques, e resgatar o espaço para um debate público, profundo e construtivo. Pois, como nos alertou McLuhan, as novas tecnologias moldam não só a nossa comunicação, mas também a nossa própria percepção do mundo.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Em comparação com outras praças financeiras, a bolsa portuguesa apresenta um crescimento mediano

Observe o Mapa Mundo das Bolsas de Acções

Investir em ações cotadas em bolsa é hoje uma opção acessível à maioria das pessoas e, possivelmente, a melhor alternativa de investimento, superando outras aplicações. As bolsas reúnem as melhores empresas, cujos índices tendem a crescer mais do que as respetivas economias. Estas empresas de topo expandem as suas vendas, aumentam os seus lucros e distribuem dividendos superiores às taxas de juro de outras aplicações.

Quanto ao risco, embora teoricamente qualquer empresa possa falir, uma queda significativa nos conglomerados cotados, como a Sonae, Jerónimo Martins, CTT, EDP ou NOS, indicaria problemas económicos graves. Sendo estas empresas de grande dimensão, oferecem uma garantia de segurança. Contudo, para obter rendimentos acima da média, é necessário identificar empresas menores com forte potencial de crescimento. Exemplos como a Apple, Microsoft e Google, que começaram pequenas e acessíveis, enriqueceram os seus primeiros investidores. Descobrir estas empresas pode gerar grandes retornos, mas implica um risco considerável.

A pesquisa por empresas com elevado potencial de crescimento pode ser feita a nível global. No entanto, investir em empresas japonesas ou chinesas apresenta um desafio considerável devido à falta de conhecimento sobre os seus contextos operacionais. Acompanhar os índices destas bolsas a subir acima da média sem compreender as empresas impulsionadoras e o seu potencial futuro é uma tarefa complexa.

Nos últimos cinco anos, as bolsas com maior crescimento foram a indiana (117,4%), a espanhola (116,1%), a americana (92,5%) e a japonesa (84,5%). A bolsa chinesa registou uma perda de -0,4%, enquanto a portuguesa manteve um crescimento de 79,4%, superando a generalidade das praças europeias.

As taxas de variação do último ano e do último mês indicam um crescimento mais acentuado na China (42,0% e 8,8%, respetivamente) do que nos EUA (18,5% e 2,2%). No entanto, esta diferença tem vindo a atenuar-se devido às tarifas impostas pelos EUA. As variações da última semana já colocam a China em território negativo, enquanto os EUA permanecem em terreno positivo.

A bolsa portuguesa, em qualquer uma destas comparações, apresenta resultados medianos. Numa economia de menor dimensão, o crescimento tende a ser moderado, o que, por sua vez, minimiza o risco de quedas acentuadas.


PS – Os valores referidos neste post foram lidos na data da sua publicação. Como os gráficos são dinâmicos, estes irão alterar-se.

🤬 A Força Insuperável do F*! (e o Universo Paralelo do Apoio ao Cliente)

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