Existe um conjunto razoável de comentadores, políticos e antigos bloggers, conhecidos na gíria como “as viúvas de José Sócrates”, que hoje em dia já não têm coragem para o defender publicamente, como fizeram noutros tempos com fervor. No entanto, o seu fervor não se desvaneceu, apenas se tornou discreto: rezam em segredo pelo fracasso da Operação Marquês.
Em bom rigor, esta gente está-se nas tintas para o destino de Sócrates, politicamente morto e enterrado. Mas não se está nas tintas para as suas reputações. A possibilidade de verem a acusação falhar, ou o julgamento borregar, é a derradeira oportunidade para limpar algumas nódoas do lastimável currículo que ostentam nesta matéria.
Este silêncio e o desejo de anulação judicial ganham uma dimensão ainda mais irónica quando se olha para a situação financeira do próprio Sócrates, que continua a desafiar a lógica, fazendo fé no Observador.
Viagens de Luxo vs. Rendimento Declarado: O Ministério Público demonstrou preocupação com as viagens de Sócrates a Abu Dhabi, em novembro, temendo uma possível fuga à justiça. Essas duas viagens ao Médio Oriente, em classe executiva, terão custado cerca de 10 a 15 mil euros.
A Pensão: O rendimento declarado do ex-primeiro-ministro é a pensão vitalícia anual de 2.372 euros brutos mensais, o que ronda os 1.900 euros líquidos — um total de cerca de 26.600 euros anuais.
As Contas que Não Batem Certo: As duas viagens a Abu Dhabi por si só podem ter consumido mais de metade do rendimento anual de Sócrates.
A este enigma somam-se as custas judiciais: o antigo chefe de Governo já teve de pagar 16.746,60 euros só ao Tribunal Constitucional desde 2015, e ainda pendiam à data de notícias mais de 15 mil euros no Tribunal da Relação de Lisboa.
Quando confrontado com a discrepância entre os seus gastos e o seu rendimento declarado, Sócrates tem sido intransigente, recusando-se a esclarecer a sua situação económica, seja à Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) ou à imprensa. A resposta é sempre a mesma: “Não pretendo partilhar a minha vida privada com estranhos.”
A matemática da vida de José Sócrates, com as viagens de executiva e as custas de milhares de euros, é tão misteriosa quanto a persistente fé das suas “viúvas” no fracasso da Operação Marquês. Ambas, de certa forma, dependem de um milagre.

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