quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A Escola Gama Barros é a única do concelho que acrescenta valor à escolaridade dos pais

27 de Agosto de 2001 foi considerado “dia histórico” no editorial do jornal PÚBLICO, pela realização em Portugal de um trabalho semelhante ao que tinha sido novidade em França, em Setembro de 1980, com a publicação no Figaro Magazine de um estudo de Robert Ballion qualificado como “documento impublicável” (Derouet, 1992). Após vários requerimentos apresentados pela imprensa, a Comissão de Acesso aos Dados da Administração Pública obrigou a tutela a divulgar as classificações internas e externas dos alunos do 12º ano.

Uma vez que o PÚBLICO recebeu a informação em bruto, e o Ministério da Educação sublinhou que não era política sua elaborar rankings, houve que proceder ao tratamento dos mais de 460 mil resultados dos exames nacionais do 12º ano de acordo com critérios simples, claros e, na medida do possível, justos. O PÚBLICO considerou justa a ordenação das escolas pela média obtida em exame pelos alunos internos. A lógica implícita é que uma vez que as provas de exame são as mesmas, os seus resultados são directamente comparáveis, desde que o número de alunos seja suficientemente significativo. Esta cientificidade é no mínimo duvidosa, e já que os dados teriam de ser publicados, no ano lectivo seguinte o ME encomendou um estudo para a sua divulgação. Assim, em 2001/02 a imprensa não construiu qualquer ranking de escolas, limitando-se a publicar e discutir a proposta de seriação apresentada pelo ME.

Para realizar a proposta de seriação das escolas o ME encomendou o trabalho a uma equipa da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da UNL, dirigida pelo professor Sérgio Grácio. Este estudo pretendia ordenar as escolas pela parte da classificação dependente do trabalho efectivamente realizado nas mesmas, referido como contributo das escolas. Admitia-se que outra parte muito significativa das classificações é determinada pelo ambiente socioeconómico em que a escola vive, e uma vez que é determinada por condições exteriores à escola não deve reflectir-se na sua seriação. É uma ideia interessante, só que estas componentes não são independentes, e não há matemática estatística que permita distingui-las.

Grácio construiu o conceito de classificações esperadas (CES), que seriam as classificações que teriam sido obtidas nos exames em cada uma das escolas, em resultado exclusivo das condições exteriores. A diferença entre as classificações observadas em exame (CEX) e classificações esperadas (CES) permitia calcular o contributo das escolas (CEX-CES). A seriação das escolas realizou-se por ordenação decrescente deste. Naturalmente, o conceito de classificações esperadas foi violentamente criticado, porque parte do princípio que os maus resultados podem ser atribuídos a condições socioeconómicas desfavoráveis e os bons a condições mais propícias, criando uma engenharia que penaliza os bons resultados de umas escolas, e desconta os maus resultados de outras. Nunca mais se estudou o contributo das escolas, mas desde então que me questiono em que medida as médias das classificações reflectem as habilitações dos pais.

Para evitar a discussão dos contextos socioeconómicos limito-me a observar o concelho de Sintra. A tabela abaixo foi extraída do Ranking das Escolas do EXPRESSO, conjugando as (1) médias de exame com a (4) escolaridade dos pais e calculando o (5) Valor Acrescentado pela escola como a diferença (1)-(4). Deste indicador se conclui que a Escola Gama Barros é a única do concelho que acrescenta valor à escolaridade dos pais, pois nas restantes o seu valor é negativo.



Pode criticar-se esta análise pelo simplismo, ou até por erros crassos, porque a média de exame e a escolaridade dos pais se encontram em escalas diferentes, pelo que não deveria construir-se um indicador deste modo. Porém, a correlação entre estas variáveis salta à vista: as médias mais elevadas (baixas) são obtidas pelos alunos das escolas onde os pais têm mais (menos) anos de escolaridade. Como a ordem de grandeza das variáveis utilizadas é semelhante, creio que o erro se pode desculpar, porque o que perde em sofisticação estatística ganha-se na compreensão do processo de cálculo, também ele simples, claro, e na medida do possível, justo.

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