Até aqui na minha escola tinha-se vivido um clima de tranquilidade, porque apesar das diatribes da Milu, sempre foi política do Conselho Executivo esperar para ver os problemas que a avaliação de desempenho está a levantar nas outras escolas, sem pressas, privilegiando a segurança. Têm acompanhado as reuniões dos Conselhos Executivos, e sabendo o que se passa nas outras escolas também têm mais referências para prosseguirem o seu caminho sem hesitações nem precipitações. Porém o ME impôs às escolas um impresso onde basta colocar uma cruz para solicitar aulas assistidas. Não interessa que a escola não tenha avançado nada em termos de avaliação do desempenho, não interessa que os professores nada tenham investido no seu processo de avaliação, não lhes é exigido nenhum portefólio, basta que coloquem uma X na respectiva quadrícula, e os avaliadores que se desenrasquem. Senti-me constrangido a escrever o post porque considero eticamente condenável estes colegas esquecerem os compromissos que tinham assumido por escrito, e tentarem aproveitar o desarme dos honestos precisamente para os ultrapassar. Espero que compreendam que este post não foi escrito contra ninguém em particular, apenas utilizo a escrita para libertar a minha mente de assuntos que me fazem passar. Uma vantagem de colocar os pensamentos por escrito está na arrumação das ideias, libertando-me para poder pensar naquilo que realmente me interessa. Escrevi no exercício do meu direito de expressão da opinião, como cidadão livre.
Chamo-lhes desportistas porque encaram o exercício da actividade docente desportivamente. Os desportos têm um carácter eminentemente lúdico, assumindo uma posição secundária relativamente à actividade principal para a generalidade das pessoas. Só os atletas profissionais são escravos do desporto, a maralha treina quando lhe apetece.
O que caracteriza fundamentalmente os professores desportistas é o seu descompromisso com a actividade. Podem estar a dar aulas este ano, mas isso não significa que continuem a leccionar no ano seguinte. Por exemplo, podem ir gerir um Hotel em Cabo Verde ou ficar aqui pela zona a vender apartamentos. O importante é que não se sentindo vinculados a longo prazo com a docência são incapazes de desenvolver um investimento que exija dispêndio de esforço durante um período de tempo relativamente prolongado, mas sentem-se livres para aproveitar qualquer janela de oportunidade.
Imagino que se verificasse o registo biográfico de um professor desportista, a sua assiduidade não seria exemplar, pois será conduzido pela lógica de respeitar os limites legais para o exercício da actividade. Esta lógica transpõe-se facilmente para acções de formação até obter os créditos suficientes para a mudança de escalão, baldando-se a umas sessões e chegando atrasado ou saindo mais cedo de outras, entre outras estratégias de desinvestimento. A procura de um maior nível de escolaridade na sua área disciplinar seria obviamente considerada uma perda de tempo pelos desportistas.
Os desportistas são bons conhecedores de bares, restaurantes, discotecas, cinemas e teatros. Têm boa cultura nestas áreas, mas pensam que a Contabilidade é Microeconomia! Falta-lhes paixão para estudarem Economia de modo a compreenderem como esta se organiza, e nunca conheceram nem irão conhecer nenhum autor de Micro, apesar de estarem no Grupo de Economia!
Imagino que todos os desportistas terão subscrito a moção a solicitar a suspensão do processo de avaliação, porque 175 dos 184 professores assinaram-no de livre vontade, significando estes números que alguns que porventura nem tenham ido à escola naquele dia perderam a oportunidade de manifestar a sua discordância. Todos os professores têm motivos fortes para discordar do modelo de avaliação. Os desportistas certamente preferiam um modelo mais light e não terão tido a menor dúvida.
A escola realizou uma assembleia-geral para os professores discutirem a avaliação e se possível, tomarem posições concertadas a nível de escola, quanto à não entrega dos Objectivos Individuais. Tive oportunidade de perceber a aflição dos professores contratados, mas evidentemente que não se ouviu nenhuma voz dos desportistas, porque estes não têm qualquer convicção.
Apreciei a coragem dos professores contratados que numa reunião autónoma discutiram a sua situação e concluíram que seria inaceitável qualquer forma de pactuar com o modelo de avaliação proposto.
Os desportistas são como os abutres. Podem aparecer no fim, dispostos a comer o que restar. Já sabem que têm de estar preparados para o falhanço do golpe porque a lógica "danoninho" já lhes foi explicada na reunião geral:
- Olha coleguinha, a tua aula foi MUITO BOA, mas faltou-te “um bocadinho assim” para chegares ao meu nível... e como eu só vou ter BOM, desculpa lá mas não podes ter melhor!
Uma das desportistas disse-me que não faria sentido nenhum não atribuir um 20 a Economia a um aluno só porque tive um 12 quando fui estudante! Recordaria a esta desportista “inteligente” que os meus alunos estão suficientemente distantes de mim para nunca virem a concorrer directamente comigo, o que me permite ser independente. Já os desportistas em muitos casos poderão vir a concorrer directamente com os seus avaliadores. Capito?
Outra coisa que será verdade para os desportistas: ganhar ou perder tudo é desporto. Como nunca investiram seriamente na profissão, mas estão apenas a aproveitar um buraco aberto no meio da bandalheira, a não obtenção do Excelente ou do Muito Bom nunca significará para si qualquer humilhação. Seja qual for o resultado ficarão tranquilos, porque tentaram a sua chance.
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