quarta-feira, 1 de julho de 2009

Don Tapscott passou-se


Lermos textos que sabemos não corresponderem à realidade não chega a ser novidade nenhuma. Entram directamente no grupo das anedotas e o assunto está arrumado.

O caso é diferente quando se trata de um autor que conhecemos e respeitamos. Se o vemos pintar um quadro que não corresponde minimamente à realidade, quando publica um artigo com aspectos falsos, outros muito mal esclarecidos, não adianta que a lógica seja boa e até concordemos com ela. Parece que o Mundo inteiro desabou sob a nossa cabeça. Sabes Don, o teu artigo era tão patético que na imprensa portuguesa só PÚBLICO o referiu. Obviamente o Jugular - o blogue onde escreve a namorada do Sócrates - já copiou o teu artigo. Não devem ter percebido nenhum coisa, mas copiaram.

Certamente que Don Tapscott, antes de aconselhar Obama a olhar para Portugal, deveria ter feito uma investigação mais cuidadosa, e deveria ter ouvido as pessoas que conhecem o tema, como o Prof. António Dias de Figueiredo. (VIDEO)

Don, espero que tenhas acordado com os comentários críticos que recebeste dos professores portugueses. É certo que também recebeste um ou outro comentário favorável, designadamente dos vendedores de software ;)

De nada serve a Internet e os computadores se os alunos não adquirirem competências para se movimentar nela. A utilização das redes faz apelo aos recursos intelectuais clássicos, aqueles que “fazem a diferença” em numerosas tarefas escolares:
  • A lógica natural, a capacidade de meter em relação, de deduzir, de inferir, de compreender as etapas de um processo, de representar o Mundo e as suas mediações, estabilizar os métodos e adaptá-los caso a caso, inovar e procurar ajuda cautelosamente, etc.;
  • O conhecimento da escrita e um mínimo de leitura: apesar da presença da imagem e de todos os tipos de gráficos ajudando a localizar-se no monitor, é necessário ler rápida e constantemente para navegar na rede e de um modo geral utilizar a informática, porque as informações tomam frequentemente a forma de textos. Hoje, podemos certamente pedir ao computador para ler em voz alta um texto digitalizado, mas demorará muito mais tempo, não permitindo a pesquisa selectiva, o copiar-colar, a pesquisa rápida; a curto prazo, a leitura não encontrará um verdadeiro substituto no audiovisual; Bentotila (1996) mostra que a iletracia condena a muitas exclusões, entre as quais a informática, a qual dá acesso às informações, aos empregos, às capacidades, à comunicação;
  • A capacidade de descodificar as informações audiovisuais, é fortemente solicitada pela multiplicação das mensagens multimédia.


Uma prática regular de informática e de redes pode contribuir para reforçar estas três competências, mas não pode criá-las, nem faze-las mudar de um modo impressionante. Do mesmo modo que elas são constituídas, elas funcionam como os activos principais ou os handicaps maiores em relação à informática e à telemática.
Um professor experiente em informática, com todos os seus alunos acedendo sem dificuldades técnicas à rede, observa, face aos recursos do cibermundo, desigualdades tão fortes como aquelas que constata frente às tarefas escolares mais tradicionais.

Poderão as tecnologias desenhar qualquer outra hierarquia? É pouco provável. Sem dúvida, a dimensão tecnológica pode atrair certos alunos desencorajados frente a um jornal ou a um livro e, inversamente, desencorajar certos alunos com facilidade no trabalho de papel e lápis. Exceptuando estas nuances, a Internet colocará em evidência as mesmas desigualdades que uma experiência científica para concluir, um texto a resumir ou comentar, uma argumentação a construir, uma pesquisa para um projecto a conduzir. Para encontrar uma informação sobre a soja transgénica, na biblioteca como na Internet, é necessário ter uma ideia da engenharia genética, saber onde procurar, depois compreender, seleccionar e condensar as informações encontradas.

A tecnologia não faz desaparecer as desigualdades frente às tarefas intelectuais. Algumas vezes, ela reforça-a, na razão da relativa abstracção das informações numéricas.

Se o problema é tirar os jovens das ruas e integrá-los no sistema escolar, deverão promover-se pedagogias diferenciadas adequadas, mas nunca deverão demitir-se os professores das suas responsabilidades a pretexto da sacrossanta Internet, para a qual o Don reivindica o papel central:

  • Teachers facing a classroom of kids with laptops need to learn that they are no longer the expert in their domain; the Internet is.
  • O professor face a uma turma com computadores portáteis precisa de aprender que já não é o perito nos seu domínio: é a Internet.


Don, sff. visita mais umas escolas e verás que fora do Hi5 e do MySpace os alunos nem sabem onde clicar! Este problema é particularmente grave com aqueles que queres tirar das ruas. São precisamente esses os que mais precisam do professor. Falaram 25 anos de experiência.

Sabes Don, não se pode ser perito em tudo! Para perceberes como funcionam as escolas, em vez de transpores os princípios da wikieconomia para educação, ainda por cima afectada pela paixão dos portáteis - as paixões são sempre irracionais - seria melhor que percebesses o entendimento professoral do quotidiano escolar, porque são os professores que definem as actividades a realizar nas escolas. O poder da Internet está no link ;)

  • A capacidade humana para gerar novas ideias e conhecimentos é a fonte da arte, da ciência, da inovação e do desenvolvimento económico. Sem ela, os indivíduos, as indústrias e as sociedades estagnam. (WIkinomics, 2006) Olá ;)




Se fosse eu a aconselhar Obama, dir-lhe-ia para consultar as estatísticas de PISA e ler o livro How Fins Learn Mathemathics and Science.



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Retrato com 60+ anos