Quando Helena Garrido procurava apresentar argumentos na esfera da racionalidade económica para justificar tamanha discrepância, não conseguiu melhor que o recurso à metáfora da água e dos diamantes. Foi obrigada a recorrer à metáfora precisamente porque não tem argumentos no âmbito da racionalidade económica.
O termo de comparação para os administradores portugueses, quando pensam no seu ordenado, são os administradores alemães, independentemente da produtividade das empresas. Já quando “estudam” os salários dos trabalhadores têm que ter necessariamente em conta a “produtividade das empresas”... Como resultado Portugal continua a desenvolver uma repartição do rendimento terceiro-mundista que cada vez mais nos envergonhará no contexto da União Europeia.
Luc Boltanski explica que os seres humanos convivem bem com uma multiplicidade de justificações contraditórias entre si, que seleccionam em função da situação em que se encontram.
Mais um exemplo. O protesto contra o desrespeito dos Direitos Humanos na China também convive muito bem o crescente consumo dos produtos chineses... não dá jeito nenhum pensar na política quando vamos às compras, não é?
(*) As contas são simples. http://vistodaeconomia.blogspot.com/ indica que o salário médio da administração foi, o ano passado, 164,1 vezes a remuneração média dos outros trabalhadores, no caso da Sonae SGPS - liderada por Paulo Azevedo, filho de Belmiro de Azevedo. 164,1/12=13,7.
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