Uma das críticas que tem sido feita ao modelo de avaliação do desempenho dos professores consiste em observar que o sistema conduz a classificações artificialmente elevadas, criando um sucesso estatístico que não corresponderá ao nível dos conhecimentos adquiridos.
A Ministra da Educação tentou demonstrar ontem, na Grande Entrevista [RTP, 6 de Março] que o modelo de avaliação proposto não tem esse efeito perverso. Deu então o brilhante exemplo que irei reproduzir de memória, mas desde já garanto fiabilidade na sua reprodução porque o escutei atentamente.
Disse então que um professor que apenas tivesse 8’s na sua pauta poderia ser melhor que outro que apenas tivesse 18’s. E explicou que o modelo de avaliação terá em conta o “contexto da escola” e os “objectivos individuais dos docentes”. Depois apresentou a seguinte contabilidade:
1- se o professor que deu 18’s já tinha alunos de 18 o seu valor acrescentado é nulo;
2- se o professor que deu 8’s tinha alunos de 5, o seu valor acrescentado é 3.
A Ministra introduziu o “valor acrescentado” como indicador do “mérito” dos docentes, e pela sua lógica o segundo seria melhor que o primeiro. Que sentido faz? Significa antes de tudo que possui um termómetro apuradíssimo para distinguir entre os alunos de 5, de 6, de 7 e de 8... Quando diz nulo o valor acrescentado daquele que atribui 18’s, também dá a ideia de que não é necessário trabalhar para manter boas notas, o que é obviamente falso.
Tanto o “contexto da escola” como os “objectivos individuais dos docentes” são obviamente retórica do "eduquês", que complexificam o processo de avaliação.
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